Não cabe em rótulos, não tem receita de sucesso. Para ser gostosa de verdade, a casa simplesmente traduz a alma de quem vive nela.
Um teto, um abrigo. Seu endereço, o lugar onde você volta depois de toda jornada - a viagem dos sonhos, após um dia puxado no trabalho. Dentro dela se passam grandes emoções e pequenos prazeres, como o sedutor perfume da cebola que frita na panela e precede a comidinha boa. A casa é um templo. O seu templo. O lugar onde você guarda o que lhe é sagrado. Filhos, objetos, cores, amores, memórias, escolhas. Dentro do ninho, e em nenhum outro lugar, tiramos as armaduras vestidas diariamente para sair à rua e peitar o mundo.
A casa verdadeira e acolhedora não tem receita. Postulados da decoração - isso não comina com aquilo, tal coisa não se usa mas - ficam para trás. Sorte dos pinguins de geladeira, das samambaias, dos sofás e criados-mudos desparceirados. Que se libertem as toalhinhas de crochê sobre os móveis, os bibelôs de louça, a coleção de bichos de cristal. Decorar a casa autêntica, aquela que contará sua história, não pode ser um peso ou um despertador de inseguranças, mas um delicioso passeio de você consigo mesmo. O bilhete dessa viagem é deixar de ser refém do olhar alheio.
Pensar no ninho como um espaço para o seu conforto, e não para impressionar ou passar imagem daquilo que você não é.
Qual será, então, o caminho para imprimir personalidade à casa?
Refletir sinceramente sobre o seu estilo de vida, sobre como você deseja viver. "Estou me sentindo confortável? Essa peça me traduz para o mundo?" Olhe, ouça, experimente. Dedicar-se à casa é dedicar-se a si.
Mudar, enjoar, cansar, assim como na moda, faz parte do processo de decoração. Não se sinta culpado por rejeitar aquele tom de verde com o qual você teve um caso de amor durante anos. De repente, ele perde o sentido. Até mesmo o tal móvel de família, que se arrastou por gerações, pode ter seu dia de pendurar as chuteiras. Aos que se angustiam com a sensação de nunca ver a decoração pronta, o alento: a casa é uma eterna obra em construção. A angústia de melhorá-la, deixá-la mais bonita e confortável reflete o desejo humano de evoluir, de conquistar. Torne-se um turista dentro de seu próprio lar, nunca deixe de observá-lo, não se acostume com ele.
Antes de terminar essa viagem, uma inspiração: a casa é o seu mundo no mundo.
O presente texto é um "resumo" do original publicado na revista Casa e Jardim, edição de outubro de 2012, pgs. 84-86, por Mariana Mello.
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